Mais saudável, ecológico… E o preço?

À parte das vantagens já apontadas, os produtos de higiene íntima alternativos tendem a estar "mais em conta". Apesar de apresentarem um valor de aquisição superior aos produtos tradicionais, devido à sua durabilidade, permitem às mulheres pouparem.

Tomemos como exemplo o copo menstrual. Na Me Luna, um copo menstrual custa 24 euros. Ainda assim, de acordo com Isabel Girão, representante da Me Luna Portugal, este produto é "reutilizável por 10 anos". Mais uma vez, caso uma mulher opte por produtos tradicionais nas grandes superfícies do país, gastará entre 70 cêntimos a nove euros por cada pack de pensos/tampões. Sendo assim, apenas com a compra de três packs, supera-se o valor de um copo menstrual. 

De qualquer das formas, Joana Tadeu, ativista e ecofeminista, afirma que a sociedade atual não pode exigir que uma pessoa faça um investimento de 20 euros. Para a ativista, a solução passa por "conseguir dar os produtos". Uma responsabilidade que considera que "deveria ser do estado".

Devem realmente os produtos de higiene íntima serem disponibilizados gratuitamente às mulheres?

Em Portugal, apesar de não haver uma medida fixa, já começam a ser dados pequenos passos nessa direção. Recentemente, a 4 de maio, a deputada não inscrita Cristina Rodrigues, do Partido Pessoas - Animais - Natureza (PAN), entregou um projeto de resolução na Assembleia da República. Nessa ação recomendava ao Governo a distribuição gratuita de copos menstruais e de outros produtos higiénicos nos centros de saúde. 

O objetivo passaria, assim, por garantir a distribuição gratuita de produtos menstruais, nos centros de saúde, nas escolas, nas universidades e nos institutos politécnicos. De acordo com o jornal Público, a deputada afirmou, ainda, esperar alcançar a "distribuição de produtos menstruais a cidadãs em situação de sem-abrigo, em articulação com as associações que prestam apoio neste âmbito". Para além disso, sublinhou que esta medida "não é só uma necessidade básica, como também uma questão de dignidade". 

Auscultando, agora, a opinião das mulheres portuguesas, esta parece ser unânime. 

"Deveria haver o mesmo para a higiene íntima, um incentivo aos reutilizáveis de higiene íntima e doar, por exemplo, através dos centros de saúde e das juntas de freguesia"

"Ajudaria muito mais as mulheres, até mesmo para terem uma escolha mais elaborada e mais ponderada" 

"Todas nós menstruamos, não há como evitar e, realmente, há pessoas que não têm condições de poder de comprar e de poder viver a sua menstruação com dignidade, de uma forma limpa e tranquila"

Iniciativas

No mês de maio, promoveu-se o debate parlamentar "no sentido da menstruação não ser uma forma de discriminação, de desvantagem económica e ambiental". Os deputados do PAN, André Silva, Bebiana Cunha e Inês de Sousa Real, apelaram à criação de um programa que, através do SNS, disponibilize gratuitamente produtos menstruais reutilizáveis.

Há cerca de um mês, surgiu também a iniciativa #TodasMerecemos, um "projeto solidário e ativista que quer contribuir para que a menstruação deixe de ser uma desvantagem para quem a tem".

@TodasMerecemos
@TodasMerecemos

De acordo com Joana Guerra Tadeu, uma das co-fundadoras do movimento #TodasMerecemos, a iniciativa "quer que a menstruação deixe de ser uma desvantagem social, uma preocupação financeira e um perigo ambiental". Para isso, assume-se como um projeto solidário e ativista.

Desta forma, com mais de 7 mil assinaturas (revisto dia 1/06/2021), a carta aberta "por quem menstrua a quem pode fazer com que menstruar deixe de ser uma desvantagem social", propõe:


A mudança sistémica e sustentável depende do vosso interesse, atenção e ação, sendo que propomos, desde já:

  • Tornar gratuito o acesso a produtos menstruais a todas as pessoas em risco de exclusão social e económica;
  • Tornar as despesas com estes produtos dedutíveis em IRS;
  • Incluir no currículo escolar, com carácter obrigatório e sujeitos à avaliação de conhecimentos, conteúdos relativos à menstruação nas temáticas de igualdade de género, educação para a cidadania, desenvolvimento bio-psico-social, direitos humanos e educação ambiental;
  • Formar docentes de várias disciplinas para a abordagem da menstruação em contexto de sala de aula;
  • Criar uma legislação e fiscalização efetiva na produção de produtos menstruais, para que tenham cada vez menos componentes poluentes, com indicação objetiva nas embalagens sobre a pegada ecológica dos mesmos.

Menstruar não pode ser uma desvantagem económica e um perigo ambiental. Porque sabemos ser parte da solução vimos, por este meio, requerer a análise política, social e económica deste problema bem como a respetiva ação legislativa e normativa.


Para isso, o movimento encontra-se a realizar uma investigação em torno da menstruação em Portugal. Este estudo conta com o apoio do INFARMED e do SNS. Em entrevista, Joana Tadeu conta que um dos propósitos deste trabalho é "saber o custo que traz para o estado financiar as pessoas todas que menstruam em Portugal, começando pelas pessoas em exclusão social ou em dificuldade financeira".

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