A pobreza menstrual existe em Portugal

Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), a pobreza menstrual descreve "as dificuldades com as quais mulheres e crianças com baixo rendimento passam para adquirir produtos menstruais". Apesar da experiência em países mais vulneráveis, Vânia Beliz acredita que, em Portugal, existe pobreza menstrual.

Para que se possa perceber esta realidade, basta ter em consideração o valor monetário total gasto mensalmente por uma mulher em Portugal, caso esta opte por produtos tradicionais nas grandes superfícies do país. Para a realização desta infografia, optamos pelo período de troca de produtos de higiene íntima recomendável, isto é, de 6 em 6 horas.

Se o meu período menstrual durar dias, for ao e optar pela marca para comprar um , por unidade, gasto mensalmente.

Esta consciência levou Vânia Beliz à criação dos kits Dignidade Menstrual e Adolescer. Com estes, a sexóloga pretende, "acima de tudo, levar dignidade às mulheres que menstruam, porque ninguém pode ser colocado de lado pelo simples facto de menstruar".

Kits Adolescer e Dignidade Menstrual

Juntamente com a sua mãe, Vânia Beliz produz um kit "pensado para as meninas trazerem nas mochilas para quando lhes aparecer o período", o Adolescer. A bolsinha SOS, como a sexóloga a define, é composta por um penso diário, um penso de dia e um penso de noite descartáveis; dois tampões, um com aplicador e outro sem aplicador; lenços de papel, uma carteira de chá de camomila e um panfleto informativo. Além de fornecer os produtos necessários para o período menstrual, Vânia Beliz acredita que esta bolsinha abre portas para se conversar sobre a menstruação.

Produtos do kit Adolescer (Facebook - Vânia Beliz Sexologia)
Produtos do kit Adolescer (Facebook - Vânia Beliz Sexologia)

O kit Adolescer é comercializado de forma a financiar bolsinhas que vão para Guiné e para São Tomé, o kit Dignidade Menstrual. Este é composto por três pensos e cuecas de algodão. Vânia Beliz explica que, a primeira vez que enviaram pensos para estes países, perceberam que algumas meninas não tinham cuecas para os poder utilizar.

Vânia Beliz aproveita, assim, para contar um pouco da vida destas mulheres. "Não é só a ausência de produtos. Nestes países, também não temos saneamento e as mulheres vêem-se obrigadas a fazer quilómetros ao calor para ir buscar um balde de água". Além do acesso a condições de habitabilidade, a sexóloga aponta "o desconhecimento sobre os fenómenos do corpo".

Este desconhecimento é resultante "da forma como nós vivemos a nossa infância e passamos dessa fase para a adulta. Muitas mulheres, após a primeira menstruação, vêem as suas hipóteses de continuarem a ser crianças cortadas", refere. Desta forma, sublinha que

"Crescer para as meninas e para os meninos não é igual! 

Para as meninas limita-as e, para os meninos, acaba por os emancipar"


Comunicação da menstruação em Portugal

Apesar das claras diferenças entre Portugal e os países mais vulneráveis, Vânia Beliz não deixa de sublinhar que "aqui também não existe comunicação". Recorda que, "nós, quando falamos em educação sexual, a educação sexual não aborda a temática da menstruação. Fala-se da menstruação só como uma coisa biológica, a ausência da fecundação". Neste sentido, afirma que o estigma e "a forma como nós vivemos a menstruação estão muito ligados com a forma como somos ensinadas a geri-la".

Sandra Marina concorda que o tema deveria ser mais abordado, já que "é uma coisa tão natural em nós e é uma coisa à qual nós não podemos fugir. Se houver mais informação sobre isso, as pessoas sabem as suas opções e podem tomar decisões fundadas". Para Vânia e Sandra, os espaços para promover estas discussões passam pela família, escola, comunicação social e trabalho de associações focadas na área.

Por sua vez, Joana Tadeu crê que este caminho começa já a ser traçado, mas que o tratamento cultural da menstruação não está a ser bem feito. "Irrita-me estar a ler e ser sempre uma questão feminina, que não é; é sempre uma questão íntima, que não é; é sempre uma questão de higiene, que não é; ou só se fala das partes más: das dores, das doenças, das dificuldades, da pobreza; ou só se fala da menstruação e não se fala do ciclo menstrual; ou se foge de falar da sexualidade, quando a menstruação é uma questão sexual", conclui. Assim sendo, espera que um dia se alcance essa mudança.

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